De Saudades

Os olhares deixam-se tecer pelos fios da espera.

Em tuas ausências, descubro-me em ansiedades

Rendida à ternura do lembrar, ao afago do recordar

É como se entregasse o peito ao desatar do sentir

E num soprar de silêncios incontidos, confessasse-me

Renegando o claustro, a tortura do emudecer-me

É que os versos aliciam minha pretensa quietude

Derramam-me de quaisquer supostas medidas

Transbordam insones nas águas despertas

Do coração que só se sabe a viver em ti

É que deste às minhas letras tuas senhas

As entrelinhas dos teus desejos e expressões

Assim conjugo-te em meus assombros

Como se o “eu” e o “tu”, a qualquer tempo

Fossem sempre feitos do inequívoco nós

Ardem em minhas mãos os teus gestos

E tudo parece combinar com o tudo de mim

Entrelaçam-se meus dedos quase sem ar

Como a buscar vestígios do que não foi dito

Vezes, dispensas a palavra, o passo seguinte

Asfixiando o que tanto sei e que não revelas

Mais ainda ficas em mim nesses momentos

Quando te pensas à salvo em tuas fugas

Nesses dias, em que tudo me falta

E um fino fio me sustenta a alma

Alterno-me entre luas prateadas de saudades

E dias que me escrevem sobre teus cheiros

Como se a visão fosse também olfato e paladar.

Minhas mãos sempre acham que virás

E compõem e me delatam sem pudores

Dizem dos meus encantamentos e delírios

Desse estremecer permanente que me rodeia

Quando te vejo em meus olhares...

© Fernanda Guimarães

Fernanda Guimarães
Enviado por Fernanda Guimarães em 06/05/2006
Reeditado em 25/08/2008
Código do texto: T151202