POSÍDON TODO-A-MARé

POSÍDON TODO-A-MARé

... remador

rema-rema sob

azuis todo-céu e todo-mar

rumo ao rema-rema(te) horizonte.

Anfitrite e delfins e

ondas ao léu aos confins

da maré

mareante errante

ante marecéu.

Assim,

perdido horizonte...

Errâncias!

Remar contra todas as ânsias

da maré... de todo a-mar-é...

Rema-rema, remador!

Oh, céus! Náuplio, és um deus remate-de-males

dos mares

qual Alóades! todo azo,

olhos azul-d’aço,

azulece minha rúbea pele,

e eu, aqui, fisgado por Proteu,

c’anzol de um raio de sol-aço.

Oh, céus! Oh, Órion, caçador maldito!

Coxo estou, coxo agora sou, por todos os santos benditos!

um espectro, incompleto,

coxeando por todos os portos,

claudicando, vagando

o mocho a contragosto,

e gotas do meu sangue

a ruborizar todo

abismo oceânico que de rubra

cor se tinge.

Rema-rema, rema a dor,

remador!

que então se queda -

agora qual calada esfinge -

nas profundezas oceânicas,

por desejo amoroso -

agora não mais rancoroso -

mas em paz, entre os peixes, os gênios e as nereidas,

distante do alado Pégaso.

Sim! remador abstêmio de paixões, sem peia,

tão-só por amoramaré sem-fim,

remador mal-azado, mal-amado

‘té mór-aromamor,

‘té remidor, enfim!

Nenhum lamento, não mais coxeia,

apenas rema a dor.

SÍLVIO MEDEIROS

Campinas, é outono de 2006.