BUSCA NO ETÉREO
A sala toda luzidia.
Um perfume de gardênia.
Misturava-se na alegria
Da brisa - entrar amena.
O sofá anoso, mas travesso...
Enrubescera-se no pousar
Do corpo bizarro, faceiro
Que punha a dama sentar.
Ai sentada, toda catita.
Seu parolear, qual canto.
D'um melodiar se fazia
Parecer a mim - acalanto.
A dama que ali estava
É a musa que busco.
Nas rimas - cantava.
Nas estrofes - um soluço.
Nela via, toda vida.
Um mundo de inspiração;
Um canto, amor, guarida
Abrasar-me na contemplação.
Seus olhos negros amendoados
Fazem de mim um trovador.
De estrofes e rimas bodados;
Cantando versos de amor.
Cabelo pretos em desalinho
Que a brisa baloiçava.
Qual carícia de menino
Por vezes o rosto beijava.
Lábios em contornos rubros
Qual, adornantes romãs.
Frágeis, belos, polpudos
Saborosos, qual maçãs.
Seu rosto em adorno.
Um quadro de Rafael.
São suaves contornos
Não pinta qualquer pincel.
Seu corpo belo, delgado.
Uma Vênus, ali está.
Com o vestido alongado
Suas pernas a entrelaçar.
Um conjunto de real beleza.
Um firmamento em luz.
Seu porte de realeza,
Tudo nela seduz.
Essa a musa que busco
Quando a inspiração não vêm.
No meu pranto - no soluço.
Busco-a na glória - no além.