O dilema do poeta
 
 
Se em palavras jamais cabe
o que brota em sentimento,
vez por outra há um momento
em que o coração desabe
e tudo que sente e sabe
se estilhaça pelo vento.
Versos de amor e tormento,
lendas que a vida se gabe,
pousam de leve em alento
num poema que se acabe.
 
Quando se acaba um poema
resta aquela sensação
de que tudo foi em vão,
de que não valeu a pena.
Um final é coisa extrema
que sugere uma extinção
e surge um novo dilema:
um final existe ou não?
Eis o xis desse problema:
nunca há fim na criação!
 
A criação não termina
mesmo quando se pressinta
que a palavra não domina
tudo aquilo que se sinta.
Terminam papel e tinta
e a alma então se amofina,
quer prosseguir sua sina
em cada verso que pinta.
Emoção não se confina
e um verso nunca termina.