A janela

Debruço-me na janela,

Diante de mim, descortina-se a vastidão:

Céu, mar, cais, caminhos, muitos caminhos/descaminhos . . .

Que me impede de abandonar esta janela,

Erguer minha bandeira,

Comandar meus exércitos,

Singrar meus navios,

Construir pontes (ainda que de tédios),

Abrir caminhos para chegar ao sul de tudo?

Não sei. Não quero saber.

Uma angústia antecipada de derrota oprime meu peito,

Um tédio, vestido de desânimo brumoso, desaba sobre mim, plúmbeo.

O amanhã é um jardim de rosas brancas murchas, desfiguradas.

Esqueçam-me, deixem-me aqui sozinho,

Despetalando o malmequer dos sonhos desfeitos,

Das mágoas choradas, das esperanças malogradas.

Que foi feito do menino que sonhava conquistar o mundo?

Perdeu-se na curva do tempo,

Enveredou por labirintos de ser,

Saltitante, ávido de sonhos . . .

Na torre de meu abandono, vou tecendo a colcha de retalhos

Com os fios dos desejos insatisfeitos, das ânsias insaciadas,

Das esperanças naufragadas . . .

Para que importar-me com o lá-fora,

Com a gente mesquinha e vulgar,

Com o decorrer monótono das horas?

As horas devoram, corroem, desfiguram impiedosamente

A matéria e aniquilam a vaidade.

O tempo avança irremediavelmente

E deixa marcas profundas e dolorosas:

Algumas feridas cicatrizam: outras permanecem chagas abertas,

Sangram constantemente, queimam por dentro como se fossem

Um vulcão na iminência de vomitar larvas incandescentes . . .

Que me impede de traçar uma rota,

Seguir um caminho que me leve ao cais definitivo?

Não sei. Não quero saber.

Deixo-me ficar nesta janela, indiferente, alheado, inerte,

Embalado por este desassossego

Que me veste de ironias e de cansaços . . .

Oliveira