De repente, a gente não sabe o que aconteceu, quais as sensações, os pensamentos, as razões, a agonia, o desespero. Mas pessoas aparentemente felizes, equilibradas, amigas, socialmente bem adaptadas, sorriso no rosto, presente nas dificuldades do outro... desaparecem, dão adeus a esse planeta, tiram o seu maior presente, a vida. Isto aconteceu com um amigo, A ele dedico este poema:

ENIGMA
 
 (Homenagem in memoriam a Valdir)
 
 
 

Na imensidão do éter, na vastidão do mar,
No luzir de mil sóis ou na penumbra de umbrais,
Que transporte, irmão, escolhestes prá desertar,
E agora, onde sangram teus pés, por onde andais?
 
 
Que sensações sentistes, onde deixastes a razão
Amigo, foi um abutre gigante ou pena de canário
Que dor atroz te conduziu a tão negra escuridão,
Terá sido de zinco, ou será de seda teu sudário?
 
 
São duas imagens fortes que desmoronam o meu ser
E me fazem delirar, estarrecer e refletir:
Teu jeito manso, humano e tranquilo de viver
E teu modo rude, trágico e doloroso de partir.


Yara Cilyn Lima Oliveira, do livro Presente da Arara Azul

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Imagem: Caminho Alentejano de Jose Luis Mendes