Calvário

CALVÁRIO

No cálice que se diz santo.

Busco a embriaguez permanente.

No sacro soar enferrujado dos sinos,

eu rio e choro, numa dança demente.

No resto do pão mal dividido

Farto-me como se fosse banquete.

Nas penitências que não absolvem

e não nos redimem as falhas

eu adormeço, e a cruz que carrego

não pesa mais que palha.

Pelas mãos erradas que constroem o sacrário

Pelas contas, tontas, de tantos dedos

a girar o rosário.

Pela porção "anjo" e "demônio"

que nos é hereditário.

Pelas vozes que orientam e confundem

e não hesitam em crucificar-nos a todo instante

Confesso-me culpado, por ainda ser

tão parecido como antes.

E não preciso de julgamento, sigo só, voluntário.

Pois meu corpo tem as trilhas, os trilhos

chegarei ao meu calvário.

Tonho França.

Tonho França
Enviado por Tonho França em 17/04/2006
Código do texto: T140281