Cerol (o anel que tu me deste)
O anel que tu me deste
Era vidro e não quebrou
O que contraria a estatística
De que todo amor de vidro
É transparente e dura pouco
Mas se um dia se quebrar
Será apenas mais um anel
Entre muitos que quebraram
Trincaram, racharam turvaram
Esfarelaram e viraram cerol
Que o nosso amor vire o cerol
Que rasga o céu de tom cinzento
As linhas dos aviões comerciais
Os fios dos postes, as estradas
A linha do horizonte desértico
As cordas dos violões, ainda que sejam de aço
Causando assim o estardalhaço
Que os violões de parede não causam
Das paixões que viram moda e dia-a-dia
Mas que não corte os dedos das crianças empinando pipas