Caipirinha do Faria


Em qualquer receita o segredo,
que é sabido por toda gente,
está em fazer a escolha a dedo
de cada um dos ingredientes.

Que se tenha bem abundante
açúcar bom e refinado.
Nada de mel ou adoçante
ou mesmo leite condensado.

Por certo, que não se dispensa
a escolha exata dos limões;
pequenos, de casca não densa,
macios pra dar-se apertões.

Pra garantir o resultado
de tudo aquilo que se faça,
Não se pode ser acanhado:
abuse e use da cachaça.

Nem pense que toda a aguardente
é igual, disso pode estar certo.
Pois não se arrisque: experimente
todas que estiverem por perto.

Quando se toma uma purinha
é que se sabe seu valor.
Só cuide, então, da caipirinha
quando a pinga lhe der calor.

Todo capricho é essencial
quando se quer ter mais esmero.
E um toque bem original
é canela em pó pra tempero.

Vá ao seu refrigerador
enquanto ainda pode vê-lo.
Não há influência no sabor,
mas é preciso muito gelo.

Apanhe dois copos lavados,
um portentoso socador
e uma faca com corte afiado.
Mas use o cabo, por favor.

Encha um dos copos pela borda
com a cachaça preferida.
O que não lhe mata, engorda!
Vá bebendo durante a lida.

Noutro copo ponha no fundo
muito açúcar - mas de montão!
Não se leva nada do mundo,
que fique bem doce ele então.

Corte ao meio uns três limõezinhos.
Não tire as cascas. Isso não!
É o branco que está no meinho
que pode amargar a poção.

Recolha todos e assim jogue
por cima do açúcar na taça.
Mesmo que esteja muito grogue
beberique mais da cachaça.

Mire bem no meio e então soque;
soque até verter todo o sumo.
Pegue mais cachaça e coloque.
Misture assim tudo, em resumo.

Salpique com mão moderada

a canela na beberagem.
Não coe! Bebida coada
parece muita viadagem.

Essa é a hora de pôr o gelo -
tome o resto de sua pinga!
Isso é de arrepiar os pêlos:
sua caipirinha está linda!

Na borda do copo pendure
uma casca deixada à mão.
Será infinita enquanto dure
essa batida de limão.