Velas Sob a Cama
Que pensas agora, donzela
Sobre as oito velas
Que delas sobraram só parafina
Como sonho ou cousa divina?
Lembra-te das brincadeiras
Porque só assim eu vos digo
Dos planos de mentirinha
Dos meus sonhos, teus perigos.
Sem medo vai, porra, sem medo
Tirar a válvula é preciso pra ser feliz
Então tire logo, vai, sem receio
Sem medo de se ter o que quis.
Lembra da minha cama, lembra
Que até outro dia te chamava
Não chama mais! Calei-a!
Mas as lembranças estão guardadas.
Minha desgraça, depois, pouco durou
Pensei semanas ou até meses no limbo
Ha! Eu digo, não durou horas
No caminho de volta já estava tudo lindo.
Das velas, nem o pavio
Tudo queimou-se com o fogo da retórica
No peito, dei lavagem a ácido
Pus pra fora e guardei a história.
As velas me ofereceram perigo
Que em hora não fiz perceber
Incendeia agora outra cama, outro lar
Que te faz, então, por merecer.
Da cama, nem o cheiro
O cheiro lá agora é outro, saiba
É cheiro de boas lembranças
E de tudo de bom que em meu peito caiba.
Então vem, caralho, podes dizer
Já fiz meu relatório e entreguei a deus
Tenho uma cópia pra quem quiser ler
E ele aguarda agora os teus.