Como se eu me importasse

(dedicado a minha amiga Edna Lopes, que se importa)


Como se eu me importasse com o nome
do poema
ou com a rima que enriquece
as estrofes
ou com a sonora cadência
destes versos.

Como se eu me importasse!...

Sou marceneira por acaso.
Eu me importo é com a vida
do nascente ao ocaso.

Com este chão de grama orvalhada,
com este azul de rubro manchado,
cheiro de terra, semente germinando,
água de chuva encharcando o oceano.

Como se eu me importasse com as coisas
que não são.
O que me importa é aquilo
que está sendo,
ou ainda, as coisas que
vão ser
um belo dia, quando o sol clarear.

Me importo é com o suor deste corpo cansado
que deita nessa grama, rosto rubro, orvalhado,
cheiro de terra, na roupa surrada,
nas mãos calosas, semente germinando.

Eu me importo é com essa chuva que cai do teu cansaço,
com esta noite que escurece a tua fome,
com esta morte que te mata a cada passo,
com este passo com que arrastas o teu tempo,
com este tempo que tu contas  como vida.

Eu me importo é contigo, meu irmão




(do livro de poesias inédito, Herança)