O benéfico em fim trágico
Se da tua boca escapei
Como palavra mal dita,
Quase um tapa de som
Num maldizer ríspido e seco.
Acabei por me guiar
Ao calabouço do desejar-te.
O soco foi carícia.
O lampejo do teu dizer, me foi poesia.
O teu grito por afastar-me, foi sussurro de volta.
Querida, acolhe-me
Nesses braços que apedrejam
Põe minha cabeça em teu colo
Em chutes de zagueira.
Risca-me com tuas unhas
No rosto, no corpo, tatua-me de ti.
Rasga minhas vestes
Faz-me presa da tua vivência,
Me devora, me desflora, me desgraça.
Dama da minha guerra,
Faz de mim teu alvo
Lança os dardos, os tiros, as granadas.
Se um dia me fizer doente
Que venha com tua cura,
Com teus venenos, tuas tarjas pretas,
Teus maliciosos conceitos de medicina.
Se eu perder-me em ruas escuras
Que sejas minha assaltante,
Minha seqüestradora,
Quiçá estripadora.
Come-me frito, assado, cozido
Escolhes.
Só penso no mastigar,
Me salivando, mordendo e engolindo
Para assim me perder sendo absorvido por ti.
Senhora da minha catástrofe
Segue dessa maneira oblíqua,
Lança-me do penhasco
Ri do meu corpo estirado
Fere-me de todo jeito.
Ainda sim te olharei com olhos inchados
Em meio a cuspidelas de sangue
Futuras cicatrizes, tosses rubras e ar rarefeito,
Olharei bem para ti
E a desejarei como nenhum outro.