O benéfico em fim trágico

Se da tua boca escapei

Como palavra mal dita,

Quase um tapa de som

Num maldizer ríspido e seco.

Acabei por me guiar

Ao calabouço do desejar-te.

O soco foi carícia.

O lampejo do teu dizer, me foi poesia.

O teu grito por afastar-me, foi sussurro de volta.

Querida, acolhe-me

Nesses braços que apedrejam

Põe minha cabeça em teu colo

Em chutes de zagueira.

Risca-me com tuas unhas

No rosto, no corpo, tatua-me de ti.

Rasga minhas vestes

Faz-me presa da tua vivência,

Me devora, me desflora, me desgraça.

Dama da minha guerra,

Faz de mim teu alvo

Lança os dardos, os tiros, as granadas.

Se um dia me fizer doente

Que venha com tua cura,

Com teus venenos, tuas tarjas pretas,

Teus maliciosos conceitos de medicina.

Se eu perder-me em ruas escuras

Que sejas minha assaltante,

Minha seqüestradora,

Quiçá estripadora.

Come-me frito, assado, cozido

Escolhes.

Só penso no mastigar,

Me salivando, mordendo e engolindo

Para assim me perder sendo absorvido por ti.

Senhora da minha catástrofe

Segue dessa maneira oblíqua,

Lança-me do penhasco

Ri do meu corpo estirado

Fere-me de todo jeito.

Ainda sim te olharei com olhos inchados

Em meio a cuspidelas de sangue

Futuras cicatrizes, tosses rubras e ar rarefeito,

Olharei bem para ti

E a desejarei como nenhum outro.

Caio Augusto
Enviado por Caio Augusto em 13/12/2008
Reeditado em 11/10/2009
Código do texto: T1333757
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