Mímica do amor
Imprevista, os espelhos me mostram
outra mulher, deste teu amor
não mais iluminada.
E meus pés perdem o chão
feito pássaro sem asas
em cantos desafinados
sem fala, sem medo, sem mais nada
senão o teu vôo riscando meu mundo
em rabiscos delicados de amor.
E sigo, sonhando com o teu abraço
brilhando sob o teu olhar
à quentura do teu beijo
em meu morno ventre
carente de tanto desejo
sou uma infeliz sobrevivente
da solidão, de tanto penar...
E enfim, em alva liberdade,
eu sei e tu bem sabes
das palavras em lugar dos nomes
das lembranças do teu sussurrar
"minha amada", "meu amor"
e da mímica dulcíssima dos beijos
no silêncio azul das nossas madrugadas...