Lágrimas no carnaval
Todos estão dando risada, menos eu
Que me resguardo em meu silencio e solidão.
Todos estão idiotamente alegres, menos eu
Que fico a bocejar de tédio diante da vida.
Todos estão eufóricos com o futebol,
Com o natal, com a páscoa, com mais um fim de ano,
Com qualquer feriado inútil, menos eu.
As minhas borboletas são sem asas e sem cor
As frutas do meu pomar tem o gosto amargo da estranheza
Os pássaros do meu bosque são mudos e solitários.
A maioria dos poetas louvam a alegria, menos eu
Que me repito inutilmente a cada verso.
A maioria dos poetas cantam as glórias do passado,
Menos eu, que afogo meu desencanto em álcool e nicotina.
Todos os poetas cantam com devoção suas amadas,
Menos eu, que abortei do meu peito a ternura do amor.
Todos estão a vibrar na mesma freqüência
Todos são o ideal, a faculdade, o emprego, a praia,
Todos cantam em coro o mesmo samba-enredo,
Menos eu, que fico a chorar sozinho na avenida deserta.
Thiago Cardoso Sepriano