DESCOMPASSO

Haveremos de viver como se nada tivesse acontecido;

Parados, não andamos,

Andando, não chegamos,

Chegando, nada fizemos.

Haveremos de viver como se nada tivéssemos causado,

Diremos que o que os olhos não vêem

O coração não sente.

Que não roubamos,

Mas não fizemos

Que não amamos,

Mas jantamos fora

Que não construímos,

Mas fomos concretos.

Nada haverá em nossos caminhos:

Nem espinhos,

Nem tumores,

Nem rumores de amores,

Nem beijos estúpidos,

Nenhuma estrela com nosso nome,

Nenhum filho com nosso sobrenome.

E quando se avizinhar a hora de colher a última pétala da margarida, seremos mal quistos.

Compreenderemos então

o quanto menos triste é a solidão

do que a companhia de um sapo

que jamais se tornará príncipe.