Espólio
É agudo o barulho
que penetra em meus ouvidos
e faz trepidar meu corpo inóspito;
carcaça de uma alma em ruínas,
destituída de sabores,
apodrecendo sob o escaldante sol de inverno.
A desesperança que assola
é a dona de tudo o que sobra,
sobrando apenas as memórias
que se estilhaçam em lacunas,
vertendo sobre o tecido encharcado
o suor de inúmeras tentativas frustradas.
É áspera a tarefa
de transcrever a agonia,
percorredora de infindáveis distâncias,
voraz dominadora de almas frágeis
e severa senhora,
que prenuncia aos ventos
as migalhas que espalharam-se pela rua.
É o que sobrou da metade que me compunha.