Encruzilhada
O próximo passo se anuncia.
Hesito...
Pressinto uma sensação de irrevogabilidade.
Divisor de águas?
Divisor de mágoas!
O sol se pôs sobre sonhos antigos
e só resta uma pálida sombra de desejo.
Os alforjes pendem nos ombros
sobrecarregados de pedras e pedras
colhidas ao longo do caminho.
Espalho a bagagem à minha frente:
"Estabilidade": âncora que inibe o movimento.
"Sensatez": máscara da falta de arrojo.
"Civilidade": eufemismo politicamente correto.
...
Não vale a pena prosseguir avaliando
tal espólio de uma pequenez de vida.
Tudo foi colhido com esforço
na vã tentativa de ser...
no falso intento de ter...
Pesa muito! É demais!
Atiro longe minha coleção de conquistas estéreis.
Pinça no peito um sentimento de perda.
Anuncia-se n'alma um sentimento de alívio.
Agora, é momento de decisão!
Opções à minha frente:
Uma trilha antiga e repisada
cortando um trajeto ladeado pelo certo e o errado.
Outro rumo sem referência
esperando por ser mapeado.
É chegado o momento do próximo passo.
Hesito...
Rogo aos céus amparo e orientação.
Lanço-me em direção ao desconhecido
porque lá adiante vislumbro uma flor.