Despertando da Anestesia
Delicadamente,
Entre suspiros profundos
E bocejos lânguidos,
Despertei esta manhã,
Mal a luz do dia se insinuou
Através das frestas da janela...
Com a ponta dos dedos
Abri as folhas,
De par em par...
Uma manhã tão bela,
Feita para amar...
Mas nada senti,
Exceto prazer visual...
É que o meu sentir anda meio mal...
Meio cansado
De tanto dar com os burros n'água.
Meus suspiros românticos se esvairam
Qual praga...
Mas era necessário.
Precisava me anestesiar um pouco.
Meu coração andava meio louco...
Me fazia sofrer
Me fazia chorar...
Então,
Cansada de tanto penar,
Deixe-o quieto,
A dormitar...
Anestesiado por uma desilusão.
A beleza do dia o enternece,
Mas ele não vibra de paixão...
Está abobalhado,
Meio que adormecido,
Esquecido de quem o fez acelerar.
Alguém que um dia chegou...
O encantou...
O fez bater alucinado,
Despertando para coisas que ele havia esquecido...
E agora ele está escoriado...
Meu peito é novamente enfermaria...
Ainda bem que ele não se partiu,
Mas nem sei se o faria...
Ir para UTI devido a uma paixonite porcaria?
Não.
Está apenas deprimido, esse bobinho...
Ouviu demais belas palavras
Acreditando na ilusão de que outro o queria.
Sofreu com ausências prolongadas,
Com promessas vazias,
Com pretensa afeição...
Ainda bem que não se iludiu a razão,
Ou nem a beleza do dia iria me confortar...
Se meu coração tivesse se entregado,
Plenamente,
Ele estaria partido,
Não escoriado e dormente...
E eu ficaria parada,
Com ele a sangrar...
A razão dá de ombros, sem preocupação.
Ela balança a cabeça,
Antes de encaixotar a ilusão,
Embrulhar e preencher os campos necessários.
Ela pretende devolve-la ao remetente,
Sem desejar saber qual será dele a reação.
Pode parecer pessimismo,
Mas na verdade, não é...
Era tudo uma questão de confiança,
De fé...
E embora o coração estivesse abobalhado,
A razão não se entregou...
Mas tudo bem...
Aproveitei enquanto durou...
Mas, nem por isso,
Quero manter essa paixonite na estante.
Prefiro vê-la bem distante
Para não mais me infectar.
Eu sabia
Bem lá no fundo...
Quando a esmola foi demais,
A razão desconfiou...
E foi por isso que,
Quase de imediato,
Meu coração ela anestesiou
Na primeira grande decepção...
Assim, os ferimentos foram apenas superficiais.
E sentada diante da janela,
Penso no aqui, no agora e no jamais...
Em possibilidades infinitas
E o dia mal começou...
E sinto meu coração acordar,
Tão vagorosamente quanto despertei a pouco...
Batendo sereno,
Não feito louco...
E tudo que ele quer, agora,
É pelo nascer do sol se apaixonar.
Quer escrever, sonhar...
Por ele mesmo, não por outro.