Vertentes
O dia amanheceu cinzento,
parecia que a minha tristeza
estampava o céu.
A chuva caía despretensiosamente.
A água que descia lavando a rua
– precipitando a vida –
era torrencial, pesada como a carga
que levo em meus ombros.
E a chuva transbordava
nas frestas da calçada.
Frente às poças que ali estavam,
começaram a se formar meus versos,
tão soturnos quanto o céu,
tão abundantes quanto a água que caía.
Num suspiro de saudade,
emergiu de minha alma
uma enxurrada de palavras.
Enquanto chovia, fiz rascunhos
na página nua das horas,
úmidas como meus olhos,
intensas como minha dor.
Um poema onde, em verdade,
sorvo a agonia da tempestade
e os raios da desilusão
que desabam sobre mim.
Versos que ganham as ruas
em busca de novos desejos
de outros abraços e beijos
para pôr fim à chuva de solidão
que inunda meu coração...