A MENINA AFEGÃ - Regina Lyra
A dor de ver face tão bela
Seqüestrada pela brutalidade do homem,
Ao mesmo tempo em que se parece com a face da nordestina,
Do sertão desses Estados, carregados de dor,
Fugindo da seca que amaldiçoa a terra, o homem, os animais,
Transformando-se em marginais de si mesmos.
Perseguidos pelo clima e pelo crime
De estarem numa terra pobre,
Castigada pela seca e pelos homens.
Em pouco tempo, face tão bela envelhece,
Coberta pelos panos que evitam o pecado
Ou pelos panos que a protegem do sol,
E aquele rosto expressivo nos olhos, na boca,
Na face desenhada, por pintor ou escultor...
Em pouco tempo envelhece, pela tristeza e dissabor.
Parece a avó idosa daquela face
Entretanto era ela,
Que se transformara em velha
Antes de o tempo chegar.
Aquela face tão bela
Nunca viu a cor rosa, vermelho, anil,
Esteve sempre coberta pelo preto
Que lhe tirou o viço da juventude
Esmagada pelo homem da sua terra.
Mas mesmo assim, contrariando as regras,
Sobreviveram ao seu tempo, sem a face tão bela.
(IN: I Antologia Portal CEN. Londrina: Ed. Modelo,2004