Espelho

Por que tenho que enxergar aquilo que você tem de pior? Será talvez para não admitir que também erro tanto? Será para encobrir minhas falhas, minha condição de imperfeição, que lhe acuso constantemente?

Será que não sei enxergar o que você tem de bom, por não saber ainda enxergar o que eu tenho de bom?

Talvez seja esta a chave deste grande enigma.

Da mesma maneira que me avalio, enxergo o mundo. E a mesma medida que uso para mensurar o mundo é a que minha consciência usa para me julgar.

Se me aceito como sou, aceito o mundo como ele é. Se já aprendi a me perdoar, sou flexível com meus semelhantes.

Mas por não ser capaz de me amar, talvez ainda não saiba lhe amar.

Talvez seja apenas medo de me mostrar como sou. Talvez seja orgulho que me impede de assumir, lá dentro de mim, para mim mesmo apenas, que somos iguais.

Talvez seja medo de assumir, medo do que vão pensar, mas principalmente medo do que eu vou pensar sobre mim, quando me vir assim, desnudo, sem máscaras.

Tenho medo e por não ter coragem de encarar meu medo, prefiro projetar minhas frustrações. O mundo feio que vejo nada mais é do que o reflexo do meu mundo íntimo.

Tenho tanto medo. Medo dos julgamentos alheios, porque eu mesmo já fui tão severo. E por esta razão, inconscientemente, vejo em todos os rostos juízes cruéis.

Mas somente quando me libertar deste monstro que me impede de ser eu, que me força a viver da maneira que acredito que os outros vão gostar é que poderei me entregar a você completamente. Só aí poderei entendê-lo e amá-lo, Mundo querido.

Só então a sua dor será também a minha dor. E só neste dia seremos um e somente um.