Malleus Maleficarum
As vestes brancas se agitam na água,
Em meio ao turbilhão...
Arrastada para fundo, de roldão,
Sente a coragem se esvair,
Mas insiste em acreditar...
Se ilude ao ver ao redor do lago a multidão
Tem esperança que vejam que é inocente,
Que impeçam a execução...
Que alguém desmascare
Quem acusou-a falsamente...
Que alguém perceba a injustiça,
Que uma boa alma vá lhe salvar...
Ela resiste, embora quase a desmaiar...
Seus sentidos se tornam agônica escuridão...
Ela quer viver,
Não desiste de lutar...
Mas o peso que a arrasta para o fundo
Não a deixa se libertar...
Aos pouco a arrasta ao abismo,
Como que zombando de seus esforços,
Para livrar-se da imposta mortalha...
O ar falta,
O grito falha...
A água invade-lhe a boca,
O corpo se rende a exaustão...
Na margem um homem hesita,
Mas nem assim lhe estende a mão...
Sabia que ela não era uma bruxa,
Mas a condenou da mesma forma,
Pois a turba insanecida não ousou enfrentar...
A agonia do rosto dela a mente dele retorna,
Quando, num momento,
Ele vê nos olhos dela o fim...
Não a morte em si,
Mas algo quase assim...
Algo que dura um segundo,
Mas que ele sentiu matá-lo por dentro ao ver...
Até o último de seus dias
Esse horror não irá esquecer...
Irá reviver esse momento macabro,
Toda vez que seus olhos fechar.
Por covardia ele negou-se a defender uma inocente...
Por covardia, deixou-a ser injustamente condenada...
Por covardia permaneceu em silêncio até o fim...
Vendo-a desistir de viver,
Segundos antes dela desaparecer
Para sempre,
Nas profundezas daquelas águas geladas...
Águas frias pela morte,
Devido a várias outras vidas ali ceifadas.
Enquanto a turba rejubila,
O homem estremece,
Arrastando seus pés pela estrada...
Ela era uma pobre serva,
Donzela inocente...
Mas por recusar-se a entregar-se a luxúria de um nobre,
Pervertido, doente,
Como bruxa foi executada.