ARRISCO O AZUL...

Parto hoje de mim, sem dor e sem saudade

Deixo as ruínas que me foram mas não tive

Fartei das coisas, que não vi de verdade,

Do ser a decepção, a queda, o declive…

Nada me prende aqui, nem me acho em mim

Esqueci a alma algures, troquei-a pura

Por um querer qualquer que me deu fim

E me outorgou em escrito à profundura…

Fui. E agora já lavada trepo aos céus

E vejo lá do alto minúsculas porfias

De dedo em riste arrisco-me a ser Deus

E apago em mim memórias de outros dias…

Quero hoje a pomba branca a debruar

Pesponto azul pelos instantes vadios

A ponto luz, linha solta a navegar

As árias do meu querer nos solstícios…