ANTROPOFAGIA

Feito bicho, te procuro,

farejando, rindo solto

chamo/clamo/atormento

e nenhum medo me espanta

desato nó e garganta

grito/berro/arrebento.

Nesta explosão auto-imposta,

rasgo palanque e porteira,

sangro qual ferida exposta

neste esbarro, neste tropeço,

neste amar a qualquer preço,

até de viver, esqueço.

Esta procura é vadia,

minha natureza ardendo

numa procissão doentia,

queimando feito veneno,

virando o avêsso do vento.

Quando te laço e te pealo,

e mordo, tonteio e estrago,

e sugo, e arranho e rasgo,

tatuando as marcas que trago,

me alimento e não me farto,

deste amar antropofágico

( Do livro XIRUA 1984).-