Só quem perdeu foi ela!

Tinha uma flor. Bem no início era cinza, desbotada e sufocada. Não gostava de nada. E chorava as mágoas da adolescência .

Não queria saber de luz. Nem a chuva abençoada trazia o brilho para suas petálas. Tão novas e já desfolhadas.

Ignorava o jardineiro. Não queria saber nem de poda e nem de borrifos suaves. Preferiu deitar no chão e beber de uma água química! Por sorte o jardineiro chegou a tempo. Amarrou seu frágil corpo nas doçuras aladas de um beija-flor.

Teve um dia em que suas pétalas estavam agitadas. Voavam ao vento. Novos rumos tomaram. E outras gramas se achegaram. De cinza, passou a um amarelo radiante. Cor de luz. Tanto brilho e veludo. Parecia que o vento cantava só para ela. E o sol aquecia sem medida seu luminoso amarelo. No jardim era só cor. Até os pássaros, antes tão inatingíveis mergulhavam com volúpia sobre seu tom ofuscante.

Passou as flores. Passou o sol. A flor amadureceu. Estava tão resolvida nas escolhas de cores que imprimiu em seu florescente jardim. Mas de um tudo, percebe aos poucos que muitos espinhos acompanhavam sua cor esfusiante. O jardim não estava tão belo como pensava. Os pássaros que mergulhavam a sua volta já não lhe agradavam mais. Flor amarela recolhia sem escrúpulos suas pétalas. E só os espinhos ficaram à mostra. Não perdera a cor, mas nem todos do jardim conseguiam se aproximar. Por que os detestáveis espinhos, que se desenvolveram sem que ela notasse repeliam qualquer suave borrifo de brilho e luz.

O amarelo ficou desbotado. Retorcida e murcha estava ela. Nodosos eram os intermináveis espinhos. Agressivos, odiosos até mesmo para ela. Suas pétalas ainda macias se ressentiam quando sem querer permitia que eles a ferissem. Nem o sol, nem a chuva. Nem os brotinhos que cresciam a sua volta pareciam capaz de salvá-la. Os sussurros assustados das cores de seu jardim , estavam pedindo para a flor reagir. Pediam seu suave veludo. Aquele veludo que outrora aquecia e perfumava a todos. Não foi possível para ela. Não tinha mais maciez e muito menos cor flutuante. Só quem perdeu foi ela!