ABATIMENTO
Por aqui dizem que sou muito forte,
até me chamam de guerreiro
por conta de minha luta inglória
contra minhas apoquentações.
Mas a verdade é que sou frágil.
Sempre que posso
choro um pouco;
um pouquinho só,
feito cordeirinho
no instante do abate,
mas choro.
E porque me pediram
somente para sofrer
sou parco de risos
e pobre de alegrias;
já não tenho mais cascos
nas gengivas.
Um dia ainda
ferro-me a boca
com uma dentadura de ouro
e saio galopando sorrisos afora
no afã de destemperar
o lado feliz
de minha história,
posto que sou homem
de todos os tempos
e não tenho tempo algum.