Poeminha de infância
Da minha janela via um galo
Empoleirado do alto na torre da igreja
O vento rodopiava o galo
Minha idéia galopeia, sacoleja,
Dispara errante na carroça de uma princesa
O céu tinha olhos azuis naquela época
E da janela nos fitávamos como
Parceiros em fantasias
Enquanto galo apontava em direção
Ao meu príncipe que nunca vinha
Da minha janela eu via as nuvens brancas
Beijando o campanário da igrejinha
E nos admirávamos como os fantasminhas da praia
Conversando em enigmáticas ondas que iam e vinham
Escondendo nossas tramas tão francas
Via também São Benedito
Ora passeava negro, ora branco, ora mulatinho
Sorria como homem, chorava velhinho, corria menino
O sol ficava com vergonha e se escondia devagarzinho
Ninguém deveria se sentir tão sozinho
Criança que eu era, não vi
Que os adultos não acreditam que a gente voa
Mas eu voava naqueles dias
E ainda vôo como alminha penada lá da
Igreja de São Benedito
Na Passagem onde eu nasci.
Vem o vento, embala a lembrança e vem o galo em seus giros
Anunciava o sudoeste, vento forte
Teimosia fincava-se a torre e não saía
Imagino hoje se eu fosse o galo
Aproveitava o embalo, a reza e a missa
E misteriosa voaria.
Ia encontrar São Benedito no céu
Colheria estrelas, as cintilantes.
Das pequeninhas, assim ninguém sentiria falta delas,
Enfeitava o manto de Nossa Senhora
E dormiria em seu colo enquanto o galo teima e rodopia
Na dança da minha infância.