História Forjada a Céu Aberto
Nas terras do sul, onde o vento é feroz,
Ergue-se o Rio Grande, moldado a ferro e brasas,
Um rincão de história, com sangue e voz,
Escrito nos campos, nas coxilhas rasas.
Foi terra de nativos, dos Charruas e Guaranis,
Que viviam no pago antes de qualquer conquista,
Mas logo vieram os europeus e suas raízes,
Com o gado e o pastoreio, o Rio Grande se avista.
Vieram os missioneiros, padres e fé,
Construíram reduções, plantaram saber,
Mas o Império Espanhol por pouco não é,
Pois Portugal quis o sul e o quis com poder.
Os tropeiros cortaram o chão em rota de prata,
Das Missões ao Prata, e ao som do ferrão,
Com o couro e o charque, construíram a estrada,
Que sustentou o sul, que ergueu-se então.
Veio o brado farrapo, de Bento Gonçalves,
Por liberdade e justiça, um sonho farrapo,
Rebeldes com lanças e ideais tão graves,
Pelo chão se fizeram, peleando, um capataz e um capo.
Mas o chão era duro, não cedeu à guerrilha,
E o Império firmou-se, mas nunca calou,
Pois o Rio Grande é berço de alma caudilha,
E seu povo jamais a luta parou.
Nos campos, o gado, as estâncias, os peões,
Que encilham cavalos, domando o vento,
E o gaúcho, nascido das revoluções,
Tornou-se o próprio símbolo do tempo.
Veio o progresso, vieram imigrantes,
Italianos, alemães, poloneses, também,
Cada qual trouxe um pedaço, um instante,
Que hoje compõe o Rio Grande de bem.
E assim se forjou essa terra de tantos,
Com sotaques que dançam em meio ao fandango,
Nos galpões e nas festas, entre risos e prantos,
O gaúcho mantém o seu orgulho, o seu tango.
Hoje, no pago, ainda se sente,
O pulsar da história, no pampa a bailar,
No chimarrão, no céu vermelho, no presente,
A alma do Rio Grande, eterna a brilhar.