ENRRASCADA DO CAPETA

encilhei o cavalo

e me larguei na estrada

em busca de namorada

pois cancei de andar solito

saí atrotesito

pela estrada afora

com o trinta e oito do lado

pingo ligeiro e chapéo tapeado

e o tinir das minhas esporas

no meu cavalo baio

cusquioso de pêlo

brilhantina no cabelo

e bota bem lustrada

na cintura faca prateada

para o que der e vier

cancei da vida solita

quero uma china bonita

pra que seja minha mulher

bolhei a perna no bolixo

pra comprar fumo e bala

escondi por baixo do pala

forrei a cartucheira

pra no caso de alguma asneira

eu me acha-se prevenido

sou um gaúcho de paz

desde os tempos de rapaz

mas sou rápido e destemido

debaixo de lua cheia

pela estrada troteando

já logo encontrei fandango

entrei tirando par

alguem pra me acompanhar

dancei de espora e tudo

eu já meio enchaguado

dançando um xote largado

naquele baile cuiúdo

era uma morena xucra

flor de potranca linda

eu lembro ainda

que ela me disse ao ouvido

mas como tu és atrevido

eu sou uma senhora casada

o marido é brabo e dá berro

só que eu não sou de ferro

e por ti estou apaixonada

nisso chegou o taura

com cara de poucos amigos

e foi falando comigo

num tom de corno manso

abandonei meu descaço

porque a cousa ficou feia

já vi choro de mulheres

então saquemos dos talheres

e partimo pra peleia

bala de quarenta e quatro

zuniam no meu ouvido

e eu só ouvia o tinido

de um baita facão três listras

que embaçou a minha vista

e arranhou a minha veia

e eu soltei um berro

quando uma barra de ferro

caiú sobre a minha orelha

era um índio parrudo

desses flor de figura

com dois metros de altura

dez centímetros de braço

eu quaze morto de cançaço

e a cousa ficando preta

meu corpo quase não aguenta

ele botando fogo pelas ventas

então eu vi que pelhava com o capeta

voou bem pra longe

minha faca e meu revolver

e ele me soca e se envolve

em me prender num pescoção

de repente num safanão

eu me escapei de um jeito

que a possibilidade me compete

saquei de um canivete

e enterrei-lhe no peito

peguei a china pela mão

já quaze no romper da aurora

e saltemo porta afóra

era bala por todo lado

eu já todo esfarrapado

sujo de sangue eu saio

com um friozito na barriga

levei embora a rapariga

na garúpa do meu baio.

autor: vainer de ávila

grupo poetar cia do porto

teatro e literatura

capão da canoa rs

Vainer de AVILA
Enviado por Vainer de AVILA em 30/12/2007
Reeditado em 01/01/2008
Código do texto: T796822
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