PETIÇO ZAINO DE APRENDIZ DE TROPEIRO de IALMAR PIO SCHNEIDER - Poesia Premiada pela Estância da Poesia Crioula -

PETIÇO ZAINO DE APRENDIZ DE TROPEIRO

de IALMAR PIO SCHNEIDER - Poesia Premiada pela Estância da Poesia Crioula - - Medalha do prêmio.

Pseudônimo: Chiru Serrano

Velho petiço que eu tive

nos meus tempos de guri,

hoje eu me lembro de ti

e vou sentindo saudade,

esta mágoa sem idade

que sempre nos acompanha,

pois não se afoga com canha

e nem o fogo destrói

porque quanto mais nos dói

menos sentimos a sanha.

E vou recordando agora

quando te punha o lombilho

e meio saco de milho

numa mala de garupa,

depois saía num upa

rumo ao moinho do rincão

donde eu trazia então

a farinha pra polenta

o que tanto nos sustenta

e até dá pra fazer pão.

Não esqueço nunca mais

daquele petiço manso

que nunca teve descanso

e foi o meu companheiro,

quando aprendiz de tropeiro

adquiria experiência

de tudo quanto a existência

vai tramando com enleios,

velho amigo de rodeios

na minha xucra querência!

E depois vim pra cidade

viver no meio do povo,

pensando em ti me comovo,

pois sinto barbaridade,

uma dor que o peito invade

e me vai tomando conta,

como quem anda de ponta

com o destino caborteiro

que nos leva no entrevero

e tanta vez nos afronta.

Eras o orgulho que eu tinha

quando em manhãs de domingo

no meio de tanto gringo,

eu ia assistir à missa.

Troteavas sem preguiça

no teu maior otimismo

me levando ao catecismo

onde a gente se prepara

pra ter vergonha na cara,

não praticar banditismo.

Sempre foste meu amigo,

onde andasse bem ou mal,

até que a sina fatal

nos separou de repente.

Numa tarde de sol quente,

deixando o pago pra trás

me despedi de meus pais

e vim morar por aqui;

depois, nunca mais te vi,

nem me viste nunca mais!...

Ialmar Pio
Enviado por Ialmar Pio em 30/06/2019
Reeditado em 20/10/2019
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