Legado

A tarde vinha a galope

Engolindo a nesga de dia

Prenunciando noite fria

Num poente púrpura cor

Cai o sol, e vem a lua

Emparceirada com a boieira

Clareando a cumeeira

Na quincha do velho rancho

De regresso para as casa

Um flete rasgava a noite

Tendo o vento por açoite

Saboreando a liberdade

Era só um peão de estância

Da lida de laço e sovéu

Foi curtido nas distâncias

Cavalo, mango e chapéu

Recostava o corpo cansado

Sorvendo do mate a essência

Sentia percorrer a querência

De alma terrunha nas veias

A vida se faz em ciclos

Quando um começa, outro termina

Semente nova que germina

Velho cerne que dá frutos

Quando os ossos já doidos

Não aguentarem mais o tirão

É hora de passar o bastão

No legado da existência

As botas e o velho basto

Marcados pelas batalhas

Não servirão de mortalha

A um velho homem do campo

De toda minguada herança

Sem posses ou riquezas

O pai, em sua rudeza

Entregará ao piá esperança

Depois de tudo arreglado

O guri com seu municio

O pai servirá ao ofício

De camperear no pago eterno

Bruno Seligman de Menezes
Enviado por Bruno Seligman de Menezes em 10/02/2019
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