POTRO ALECRIM
Eu fui criado em fazenda
Um filho longe dos pais
Domando curando gado
E tironeando baguais
Dormindo sobre os pelegos
Entre galpões e currais
Judiado pela lida bruta
Daqueles tempos rurais
Eu era peão de estancia
Calejado dos arreios
Caborteiro e desconfiado
Que nem bagual de rodeio
Sem nunca corre da raia
Nem que o tempo fosse feio
Cavalo pra me tira de cima
Só que se partisse ao meio
Eu montei um puro sangue
La na fazenda jardim
Um macho tordilho negro
Batizado de alecrim
Saiu pateando as orelhas
Numa rebeldia sem fim
Até as rosetas das espora
Se arrastava no capim
Comecei sentir o perigo
E o sangue pulsar nas veia
Dobrei a palma do mango
Soltei no troco da oreia
Foi como um tiro de osso
Que se da de volta e meia
O potro trocou de ponta
Nunca vi coisa tão feia
O bicho ficou gemendo
Estendido ali no chão
Senti um remorso tão grande
Que me doeu no coração
Eu olhei pro capataz
Tu manda chamar o patrão
Pra fazer as minhas contas
Vou deixar de ser peão
Que judiaria danada
Um potro morrer assim
O que a natureza criou
O homem da dando o fim
Parece que ainda estou vendo
O potro olhando pra mim
Com fio de sangue nas ventas
Morria o potro alecrim