POTRO ALECRIM

Eu fui criado em fazenda

Um filho longe dos pais

Domando curando gado

E tironeando baguais

Dormindo sobre os pelegos

Entre galpões e currais

Judiado pela lida bruta

Daqueles tempos rurais

Eu era peão de estancia

Calejado dos arreios

Caborteiro e desconfiado

Que nem bagual de rodeio

Sem nunca corre da raia

Nem que o tempo fosse feio

Cavalo pra me tira de cima

Só que se partisse ao meio

Eu montei um puro sangue

La na fazenda jardim

Um macho tordilho negro

Batizado de alecrim

Saiu pateando as orelhas

Numa rebeldia sem fim

Até as rosetas das espora

Se arrastava no capim

Comecei sentir o perigo

E o sangue pulsar nas veia

Dobrei a palma do mango

Soltei no troco da oreia

Foi como um tiro de osso

Que se da de volta e meia

O potro trocou de ponta

Nunca vi coisa tão feia

O bicho ficou gemendo

Estendido ali no chão

Senti um remorso tão grande

Que me doeu no coração

Eu olhei pro capataz

Tu manda chamar o patrão

Pra fazer as minhas contas

Vou deixar de ser peão

Que judiaria danada

Um potro morrer assim

O que a natureza criou

O homem da dando o fim

Parece que ainda estou vendo

O potro olhando pra mim

Com fio de sangue nas ventas

Morria o potro alecrim

ZECADIVINO
Enviado por ZECADIVINO em 29/11/2015
Reeditado em 01/12/2015
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