ALMA BUGRA

Como potro em reboldosa

De rédeas solta no pasto

Marcas forjadas sem brasas

Lombo calejado de bastos

Como resto teimoso de vida

Igual tropa que a cerca costeia

Mirando rumo a querencia

Em noites de lua cheia

Ronda-me a tropa da insonia

Enquanto a noite caminha

Meu flete de sonhos pasta

E a saudade no peito se aninha

Vou acorelhando recuerdos

Gravados pela retina

O sono maleva cambiou-se

Meu gado de sonhos rumina

Tropeio no tranco das horas

Em vigília a vã campereadas

Galopo num eterno reponte

Na incessante busca do nada

Uma réstia de luz se bandeia

Pela frinchas do rancho vazio

Dardejam nas palhas da quincha

Raios de sol que a manhã pariu

A distancia meus olhos espiam

A procura das minhas origens

Amanso esta inquietude com jeito

E os anseios que me afligem

Centro-me no universo de mim mesmo

Mesclo-me de sonho e verdade

E de certeza que de nada vale

Alguém sólito e sem liberdade

Ponho rebanho de sonhos em alerta

Liberto da ideia as imagens

Brota nesta hora sinuela

Minha alma bugra selvagem

Que alça o peito e manoteia

Livra-se das maneias e do bocal

De índio e potro que renega o cabresto

E refuga ao simples toque no boçal.

ZECADIVINO
Enviado por ZECADIVINO em 18/11/2015
Reeditado em 12/01/2017
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