ALMA BUGRA
Como potro em reboldosa
De rédeas solta no pasto
Marcas forjadas sem brasas
Lombo calejado de bastos
Como resto teimoso de vida
Igual tropa que a cerca costeia
Mirando rumo a querencia
Em noites de lua cheia
Ronda-me a tropa da insonia
Enquanto a noite caminha
Meu flete de sonhos pasta
E a saudade no peito se aninha
Vou acorelhando recuerdos
Gravados pela retina
O sono maleva cambiou-se
Meu gado de sonhos rumina
Tropeio no tranco das horas
Em vigília a vã campereadas
Galopo num eterno reponte
Na incessante busca do nada
Uma réstia de luz se bandeia
Pela frinchas do rancho vazio
Dardejam nas palhas da quincha
Raios de sol que a manhã pariu
A distancia meus olhos espiam
A procura das minhas origens
Amanso esta inquietude com jeito
E os anseios que me afligem
Centro-me no universo de mim mesmo
Mesclo-me de sonho e verdade
E de certeza que de nada vale
Alguém sólito e sem liberdade
Ponho rebanho de sonhos em alerta
Liberto da ideia as imagens
Brota nesta hora sinuela
Minha alma bugra selvagem
Que alça o peito e manoteia
Livra-se das maneias e do bocal
De índio e potro que renega o cabresto
E refuga ao simples toque no boçal.