CENTAURO

Quem morre co seu cavalo

numa cruzada de cargas

das cavalarias brutas,

nas arrancadas de guerra

mistura sangue com sangue.

Na terra, pele com pelos

trapos de pilchas e aperos...

Encerra a luta, tão bruta.

Não vê mais guerra, nem terra

pra haver reculuta a guerra.

Não vê irmão contra irmão,

apenas um corredor

vasto na imensidão,

na planura do horizonte

mescla de nuvem e flor.

Ausenta-se do tropél

de estalos de adaga e lança

vai seguindo em tote manso

na maiciez da eternidade

para a Querência de Deus

É o mesmo flete de antes.

Os potros possuem almas

da mesma forma que os homens.

Possuem berços divinos,

uma pastagem de nuvens,

aguadas e descampados.

Maleva vida terrena

que põe gaúchos na guerra

por puro amor pela terra,

a lutar com todo entono.

Põe pingos nas arrancadas

por simples amor ao dono.

Quem morre com seu cavalo

viveu com ele também,

pois não se escolhe parada

quando um amigo se tem.

Nos tempos de paz, na estância

sempre é o mesmo cavalo,

haja sol ou tempo feio.

É o mesmo para o rodeio,

pulperia ou pataquada,

ou de levar pra carona

uma china redomona

de uma bailanta ou ramada.

Afina-se homem e bicho

numa postura de rei,

de um soberano do pampa

que num galope se agranda.

Maleva vida terrena

que dividiu terra e gentes

idiomas, descendentes

ideais e interesses,

conflitando os semelhantes

Nada mais é como dantes.

Há artefatos de guerra

manchando de sangue a terra,

matando homens e potros...

Sangrando a honra da vida

por um capricho ou comando

Quem morre com seu cavalo

nas arrancadas de guerra,

mistura sangue com sangue.

Na terra, pele com pelos

trapos de pilchas e aperos...

Transcende sem um galope,

levando apetrechos seus.

Só vai tirar o chapéu

no sem potreiros do céu

e apeia diante de Deus.

PAULO DE FREITAS MENDONÇA
Enviado por PAULO DE FREITAS MENDONÇA em 19/05/2011
Código do texto: T2980072