Uma mão suja de sangue e gozo

Matei um bichinho peçonhento com as mãos

O espremi junto com sua vidinha insignificante que em muito se assemelha com a minha

Chorei ao lembrar que era ele que eu via quando o espelho se dispunha perante à minha cara mal lavada

Minha mão é a seguradora de muitos pecados

Minha mão já limpou as lágrimas de pecadores que encomendaram minha cabeça

Escreve, bate punheta, masturba as noviças, faz dedicatórias de amor e dá tapas na cara dos amantes

Minhas mãos sofridas, porém lisas me dão a esperança que a própria vida retira

A morte fala bem da vida,

recebe seus presentes

uma Yemanjá nua e descrente

E a vida só nos empurra para a morte,

como filhos de pais separados

O ódio forçado que tenta encobrir o amor dos desesperados que não sabem lidar com o fogo devorando seu corpo além do pulmão

O fel debaixo da minha língua reveza com a porra de homens que me xingam como se eu fosse íntima

Sou uma calcinha usada e furada, bem velha, mas que não pode ser jogada fora porque é macia e boa para dormir quando se está de conchinha com a própria solidão.

Eu matei um bichinho peçonhento o esganando com as minhas mãos

Sufoquei seus sonhos

Apaguei seus vestígios de destruição

Só não pude cair na tentação de deixar o teu corpo para sempre ao meu lado para viver um "até que a morte nos separe" forçado.

Thina Freitas
Enviado por Thina Freitas em 21/08/2019
Código do texto: T6725756
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