Uma mão suja de sangue e gozo
Matei um bichinho peçonhento com as mãos
O espremi junto com sua vidinha insignificante que em muito se assemelha com a minha
Chorei ao lembrar que era ele que eu via quando o espelho se dispunha perante à minha cara mal lavada
Minha mão é a seguradora de muitos pecados
Minha mão já limpou as lágrimas de pecadores que encomendaram minha cabeça
Escreve, bate punheta, masturba as noviças, faz dedicatórias de amor e dá tapas na cara dos amantes
Minhas mãos sofridas, porém lisas me dão a esperança que a própria vida retira
A morte fala bem da vida,
recebe seus presentes
uma Yemanjá nua e descrente
E a vida só nos empurra para a morte,
como filhos de pais separados
O ódio forçado que tenta encobrir o amor dos desesperados que não sabem lidar com o fogo devorando seu corpo além do pulmão
O fel debaixo da minha língua reveza com a porra de homens que me xingam como se eu fosse íntima
Sou uma calcinha usada e furada, bem velha, mas que não pode ser jogada fora porque é macia e boa para dormir quando se está de conchinha com a própria solidão.
Eu matei um bichinho peçonhento o esganando com as minhas mãos
Sufoquei seus sonhos
Apaguei seus vestígios de destruição
Só não pude cair na tentação de deixar o teu corpo para sempre ao meu lado para viver um "até que a morte nos separe" forçado.