De Corpo Ausente
Talvez seriam
Necessárias
Mais algumas luas
Timidez revelariam
Arbitrárias
Detrás das vestes tuas
Mas meu corpo
Outrora incoerente
Buscou teu sopro
Sem demora, impaciente
Desprendeu-se de mim
Toda e qualquer certeza
Estendeu-se em ti
Solta e maré leveza
Perguntava, sem resposta
À procura da sua vontade
Inalava a tua pele exposta
Uma cura, uma necessidade
A música ao fundo
Aos poucos ia sumindo
A musa ali em meu mundo
Aos trocos ia surgindo
Quando seu tronco
Enfim ao meu firmou raiz
Ainda não pronto
A luz que antes ela quis
Tornou-se demasiada
Contentar-se-ia com o luar
Levantou-se preparada
Com o ímpeto de apagar
Como rosa de primavera
Desabrochou em meio ao escuro
Seu corpo agora em conversa
Escrevendo no meu um belo discurso
Deixei-me ser caderno
Enquanto ela decidiu ser caneta
Fiz-me mar aberto
Ela, barco à espreita
Como o relógio sempre atento
Ainda incerta, indecisa
Penetrou mar adentro
Passeando feito brisa
E eu já viciada
Tomei-a feito água no açoite
Voltei pra casa embriagada
E ainda tenho ressaca dessa noite
Pra curar essa enxaqueca
Preciso repetir a dose
Dar paz a minha cabeça
Mesmo me causando cirrose