De Corpo Ausente

Talvez seriam

Necessárias

Mais algumas luas

Timidez revelariam

Arbitrárias

Detrás das vestes tuas

Mas meu corpo

Outrora incoerente

Buscou teu sopro

Sem demora, impaciente

Desprendeu-se de mim

Toda e qualquer certeza

Estendeu-se em ti

Solta e maré leveza

Perguntava, sem resposta

À procura da sua vontade

Inalava a tua pele exposta

Uma cura, uma necessidade

A música ao fundo

Aos poucos ia sumindo

A musa ali em meu mundo

Aos trocos ia surgindo

Quando seu tronco

Enfim ao meu firmou raiz

Ainda não pronto

A luz que antes ela quis

Tornou-se demasiada

Contentar-se-ia com o luar

Levantou-se preparada

Com o ímpeto de apagar

Como rosa de primavera

Desabrochou em meio ao escuro

Seu corpo agora em conversa

Escrevendo no meu um belo discurso

Deixei-me ser caderno

Enquanto ela decidiu ser caneta

Fiz-me mar aberto

Ela, barco à espreita

Como o relógio sempre atento

Ainda incerta, indecisa

Penetrou mar adentro

Passeando feito brisa

E eu já viciada

Tomei-a feito água no açoite

Voltei pra casa embriagada

E ainda tenho ressaca dessa noite

Pra curar essa enxaqueca

Preciso repetir a dose

Dar paz a minha cabeça

Mesmo me causando cirrose

Priscila Anine
Enviado por Priscila Anine em 24/07/2019
Código do texto: T6703063
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