PONTAS INCENDIADAS
Molhada de tanto imaginada
Enterneço com as pontas incendiadas
Falanges e teclas excitadas
Que de tantas vezes tecladas
Se chove
O dedo toca
Escorrega
Na fenda das letras encharcadas
Ensopada de palavras
Me vejo num beijo
De mordaça
Tomando um Beckett
E esperando o desatino da língua ser tocada
[a língua de raiz que penetre na boca da terra invadida]
Tu me apertando em teu corpo desperto
Atestas a chegada da terra prometida
Explorando o território
Em minúcia busca de estremecimentos
Suado
Tu exalas um cheiro azulado que me deixa entorpecida.
...em subserviência te sorvo
Calada
Sob chuvisco de pele quente
Suspiro afogada
Na virada
Mordida carnívora de dorso
O cheiro
Encarnado das curvas do pescoço
Feromoniada
Entre aspas e entre gemidos
Lambe o dedo e passa
No epílogo consciente de meu livro
[Devagar, se não eu grito]
E a boca que lambe ofegante
Respira
A ponta do olho brilhante
Revira
A ponta apontando para dentro
Se vira
Três sóis em meu quarto ascendendo
Irrigam.