PONTAS INCENDIADAS

Molhada de tanto imaginada

Enterneço com as pontas incendiadas

Falanges e teclas excitadas

Que de tantas vezes tecladas

Se chove

O dedo toca

Escorrega

Na fenda das letras encharcadas

Ensopada de palavras

Me vejo num beijo

De mordaça

Tomando um Beckett

E esperando o desatino da língua ser tocada

[a língua de raiz que penetre na boca da terra invadida]

Tu me apertando em teu corpo desperto

Atestas a chegada da terra prometida

Explorando o território

Em minúcia busca de estremecimentos

Suado

Tu exalas um cheiro azulado que me deixa entorpecida.

...em subserviência te sorvo

Calada

Sob chuvisco de pele quente

Suspiro afogada

Na virada

Mordida carnívora de dorso

O cheiro

Encarnado das curvas do pescoço

Feromoniada

Entre aspas e entre gemidos

Lambe o dedo e passa

No epílogo consciente de meu livro

[Devagar, se não eu grito]

E a boca que lambe ofegante

Respira

A ponta do olho brilhante

Revira

A ponta apontando para dentro

Se vira

Três sóis em meu quarto ascendendo

Irrigam.

Inaê Sodré
Enviado por Inaê Sodré em 11/10/2016
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