A TUA BOCA...
A tua boca
como parte da paisagem
aprendeu a colorir vazios,
a me conceder agitações!
De tão real se faz ilusão,
surge dela outro mundo,
tão notório e tão nosso.
E, nos fazem primitivos,
deixam-nos, abstrativos!
A tua boca
vai ditando uma poesia
de carne, e, cada verbo
aprendeu a me vigorar.
Pertenço como nunca
àquela ocasião única!
Sou a voz da sua boca,
sou a fome da sua vez,
a energia da sua fala!
A tua boca
aprendeu a desfazer
os mistérios do dia;
sabe fazer infinitos
os segundos; agora
vem me mandando
pelo vento um novo
alvorecer; agora já
sei do gosto do sol!
A tua boca
conhece a ciência das
coisas, sabe morder o
tédio das manhãs de
primavera; sabe deixar
um gosto de rio pelas
minhas margens; sabe
fazer outro lugar de
um lugar qualquer...
A tua boca
é que sabe da minha voz…