VONTADE DELA
(Sócrates Di Lima)
Tenho vontade de mamão com mel,
Tenho vontade de me lambuzar na manga,
Tenho vontade de purificar o fel,
Na mistura da amora com pitanga.
Tenho vontade do mar,
Mergulhar na alma desse mar que é ela,
De saltar sem para-quedas no ar,
Para cair em êxtase nos braços dela.
Tenho vontade de escalar o corpo dela,
Cavalgar no remelexo do seu gingado em passarela,
Agarrar aos seus cabelos presos em fita amarela,
E no galope da minha saudade me deitar com ela.
Tenho vontade do perfume que cobre o corpo dela,
Do batom que cobre os lábios em volúpia,
Sentir na pele os cremes que o meu corpo mela,
E no abraço apertado ouvir os sons dos ossos que arrepia.
Tenho vondade de correr em suas veias,
Como o sangue que corre até seu coração,
Como aranha envolvida em teias,
Quero envolvê-la como o casulo envolve seu embrião.
Tenho vontade de beber o vinho na sua boca,
E deixá-lo por todo o corpo escorrer,
Passear em seu corpo nu de forma louca,
E de amor morrer para eu viver.
Tenho vontade de lhe abraçar,
Na ternura que o meu coração lhe tem,
Cuidá-la para sempre estar,
Linda e perfumada me chamando de meu bem.
Tenho vontade de vê-la me esperar,
Ao final de uma tarde de trabalho,
E começar na porta namorar,
Sem querer nenhum atalho.
Tenho vontade de ser eternamente seu,
Na eternidade de um bem querer,
E se durar além do que o coração meu,
Viver de amor com ela e pra ela todo o meu bem querer.
Tenho vontade de tudo,
Até de renascer do ventre dela,
Como um amor aquém-do-absurdo,
Para não ter que morrer nessa louca vontade dela.
Tenho vontade de cobri-la,
Do meu santo véu de amor em aquarela,
Vontada, ainda, maior em produzi-la,
E cobrir de flores o corpo desnudado dela.