NO ERMO DO MEU GOIÁS
Nos anos setenta, no ermo do meu Goiás
os dias passavam sem pressa nenhuma...
Eram todos iguais, exceto quando tinha velório.
Todos pensavam apenas em trabalho
lidavam com a terra e com o gado...
Eram uns homens duros, pareciam feitos de ferro.
As mulheres enfrentavam fogões muito quentes,
lavavam em águas excessivamente frias...
Pariam e criavam na insegurança das lonjuras.
No trabalho os dias nem eram notados
apesar da paciência com que passavam...
A não ser pelas rugas precoces daquelas mulheres.
A vida era feita de dores e pavores,
mulheres já eram velhas aos quarenta...
Também, cada uma com doze ou mais filhos.
De vez em quando corria notícia de algum terrorista
que matava, partia em pedaços famílias inteiras...
Trinta dias sem sair à noite, dormiam com um olho aberto.
Cachorro latia, lá vem o bandido, homens a postos.
Graças a Deus! Alarme falso. Raposa querendo galinha...
Notícia que mataram o sujeito, lá pras bandas de Minas.
A paz volta a reinar, volta os bailinhos de final de semana.
Causos pra contar por uma década sobre os mais medrosos...
Inda bem! Senão os dias passariam ainda mais arrastados.
Nos anos setenta, no ermo do meu Goiás os dias passavam
sem pressa nenhuma... E eu ali, crescendo sem perceber...
Escapando de serpentes, correndo de vacas, sendo feliz.