Foi a Aima
Morava conosco CÁCÁ de 17 anos (apelido carinhoso de Catarina), de segunda a sexta, ficava lá em casa e na sexta às 17 hora ia para a sua residência, voltando na segunda às 05 horas da manhã. O local que encurtava caminho da sua, para nossa casa era justamente passando pelo cemitério velho. Ela fazia tudo menos estudar, falar errado para ela era o certo. Eu curioso, notei que a barriga de CÁCÁ estava crescendo, comentei até com minha mãe e tive como resposta é barriga quebrada você já viu o tanto que esta menina come? Parece uma esfomeada. Não me conformando certo dia perguntei:
CÁCÁ me responda com toda sinceridade,
Sua barriga está crescendo, estou desconfiado.
-Ela olhou prá mim e disse: “Foi a aima.
Tu sabe que prá vim prá cá,
Promode o camim incurtá
Tenho que passá no sumitero,
Prometa a ninguém contá
Poi ser mintirosa não quero.
Fica só entre noi dói meu segredo,
Senão o povo vão pensar que tenho medo.
Certo dia eu vinha prá cá
Apareceu aquele vurto,
Quase que morri de surto
Era uma aima toda de branco
Fiquei ingulino o pranto,
Ela minha boca tapou”
- E dixe: nem grita e nem corre,
Com uma voi rôca se gritá morrreeee
E eu te levu pru infeeeeernu
Sua bonitona danada?
-Eu sô uma aima penada,
“Foi logo tirano minha carcinha,
Eu pensei e agora?
Tremeno só vara verde
Ela me levano prá catatumba,
Dixe baixim: valeime nossa senhora
Ele com a vois do outro mundo,
Fungava no meu cangote
Eu cuxixava: se for de Deus fique
Se for do diabo vá embora.
Quanto mai eu falava,
Mais a aima em riba de mim ficava.
Deitoi-me na catatumba,
Eu não lembrava de nada,
Tão grande era meu medo,
Eu só sei qui quanto mai ele fungava,
Mais eu jemia e gostava
Dizeno valei-me nossa senhora
Se for de Deus fique, se for do diabo vá embora.
Ela foi ficano e mais omentava o roncado,
Até que certo momento ele cai pru lado
Vesti minha cacinha, e aproveitei
A morte dessa aima safada,
E sai para aqui im disparada.
Mais toda segunda a aima ficou aviciada,
Quando passava em frete da catatumba ela pulava,
Já caia em riba de mim
Minha cacinha rasgava,
Poi não, é qui é, meu fií
Que da aima eu gostava?
-Interrompo para pergunta:
Desta alma você não desconfiava?
Ela me respondeu:- “passei a disconfiá,
Que era o meu namorado,
Tinha duvida mai pensava é Vardemá
Só podia ser aquele caba safado.
Num ato de coragem, quando perdi o medo,
No auge do cansaço depoi do xamego
Tirei aquele pano branco
Que cubria o seu rosto,
Grande foi meu espanto
Fiquei de oi arregalado
Ao descobri que a aima
Era meu namorado.
-Se casou não sei,dizer eu não me arisco,
Só sei que por descobrir seu segredo,
E perder do cemitério o medo,
Em minha homenagem
Num ato de bravura e coragem,
O nome de seu filho é Francisco. João Pessoa-PB,28/10/2016
Francisco Solange Fonseca