A pobreza dos olhos
Secos, sem brilho
A aspereza das mãos
Dedos rachados,
destinos traçados
na palma da mão
dolorida e calejada.
Corpo esguio
Cabelos ao vento
Sujos e poeirentos
A mirada ao chão
como suínos
Sem nenhuma dignidade
para erguer a cabeça
acima dos ombros.
O caminho palmilhado
parecia infinito.
Cada pedra,
cada árvore seca ou
cactos
E, o céu incendiado
pelo entardecer.
Um passo,
uma pegada
e algum vestígio.
Talvez fosse possível
comer as cinzas.
Abrandar o fogo interior
Nas lágrimas
na colina imaginária.
Ou no gelo do coração
adormecido.
Veio a chuva
E, tudo ficou hídrico e lindo
de repente
Lamacento
Colorido.
Palpável.
O ocre amarelou-se.
O vermelho,
roseaseou-se
E por fim, sobre o
negro mágico da noite.
As estrelas vieram
narrar em sussurros
o que o outro dia
trará.
Profecias.
Olhos tristes
Lágrimas caminhantes
Espinhos recentes
Rosas, violeta
e orquídeas.
Havia uma primavera implícita.
Um verão suspeito.
Um inverno inverossímil.
E, o outono a revelar
nas folhas
a direção dos ventos
e o sabor dos frutos.
A boca recita a
reza possível
para uma crença apenas
provável.