O Cenário do Sertão
No interior a vida não tem pressa
O tempo dá um tempo no descanso da rede
Tem peixe no açude e terra onde plantar
No cacimbão tem água doce pra matar a sede
O cenário do sertão faz tudo recordar
Café pisado no pilão e queijo na fazenda
Baladeira e bornal pra caçar passarinho
As lembranças de menino fazem viajar
Tem casa em que o sofá é um banco de madeira
Até o caritó parece um armário
Saudade faz lembrar o santo na parede
A boiada lá no pasto e o som do chocalho
Depois da tarde quente, o vento ameniza
O enluarado da noite antecipar a beleza do dia
O sertanejo com a enxada, o chão vai capinar
E o vaqueiro sonhador faz sua cantoria
O agricultor planta a semente pra depois colher
O formigueiro no roçado e o corte da madeira
As vacas no curral e o leite pra beber
É um deleite o sabor da comida caseira
Da panela de barro no fogão à lenha
Tem o abano pra poder atiçar o fogo
No tempo escuro que foi
De noite, a lamparina
Era a luz do povo
O sertão é a morada do preá e do tatu
Do tejo, do cururu e também da serpente
Da asa branca, joão de barro e gavião valente
Ô Sertão repousado e de lindas paisagens!
Lá, o jumento é um guerreiro ajudando gente
Sertão árido, esperadouro de chuva do céu
Pois já tem galo no quintal e flor de mandacaru
Onde nos tempos do cangaço, mandava o Coronel
Sertão das necessidades e também do lavor
Do bravo caçador e do cachorro brejeiro
Onde o caboclo toda tarde põe gado pra beber
À noite lá na Vila, uma dose de pinga
Terra rachada é um cenário e virou poesia
Sertão do artista sanfoneiro e das belas meninas
Nas cores do calor de um torrão ardente
Se destaca o juazeiro, árvore virente
Sertão do sabiá, das receitas de chá e do abacateiro
No terreiro, a cor vermelha da linda papoula
Vassoura de palha de carnaúba jogada no canto
O ornamento está no jarro com o cheiro da roseira
No chão batido, uma cadeira e um tamborete
Além da cozinha, um alguidar, no jirau, pras louças
No vilarejo chegam espécies no dia de feira
E a moça na janela, tem expressão faceira
O agricultor cuida das leiras, milho e feijão
Com chapéu de palha, carrapicho na calça e calo na mão
O casarão. O alpendre. Água fria no pote. Estrada ensolarada
E no cavalo, uma sela de couro trabalhada em arte
Onde o vaqueiro de gibão, cavalga bem ligeiro
Na caatinga do xique-xique, também se produz o mel
A natureza se encena ao revoar das andorinhas
Sertão cenário de vida simples, e solidão vizinha