Santo Recanto da Serra Ibiapaba
No Ceará tem um modesto lugar
Onde o tempo parece não ter pressa
Protegido pelas matas da Serra
Tem vento forte sempre a refrescar
Aroma agradável das verduras e das flores no campo
Onde nasce a fruta, o batata e o mel
Lá, o crepuscular espalha luz divina
Com raios colorindo as nuvens no céu
Mas o destino mudou o endereço
De muita gente que saiu de lá
Por longa estrada transformada em sonhos
E na bagagem, um desejo querendo ficar
Origem de um Sítio simples, religioso também
Belo por natureza e alegre nos festejos
Abençoado por Deus, um lugarejo nobre
Tem na história, homenagem bíblica a São Roque
Onde o agricultor acorda com o sol
E depois do café sai para campear
Pássaros gorjeiam nos jardins e quintais
Banho no riacho, morada do sabiá
Nos conselhos dos mais velhos, têm ensinamentos
E a primeira professora com as letras da lição
O outro lado do Sítio lembra a mãe-parteira,
Que amenizava enfermidades como rezadeira
No coração emotivo, saudade infantil
Dos tempos tão ingênuos de ciranda ao luar
Baladeira, patuá, e arapuca no mato
Ainda tem garoto que sabe brincar
Domingo na igrejinha, meditação e ladainha
No mês de maio tem novena nos altares
Nas festas da cidade, principia bela Rainha
Feito flores quando nascem nos canteiros da Pracinha
Um fogão à lenha e galinhas no quintal
A colcha de retalhos feita à mão é arte magistral
Roupa nova alinhavada com o chuleio da costureira
E na panela de barro, a gostosa comida caseira"
A espingarda e o caçador, o seu cachorro vadio
O caboclo sem consciência, a natureza foi desmatar
Os animais silvestres então desapareceram
Mas também, quem mandou não preservar?
Para as águas do riacho, dirigem-se as lavadeiras
No colo da mãe de muitos, uma criança vai chorando
A semente está guardada, ela é a esperança do pão
Chuva anunciada pelo negro nevoeiro. É a hora da gratidão
Noutrora, água fresca da cacimba no pote de barro
A casa de farinha e o doce do engenho
O som do chocalho do gado no curral
Rede no alpendre, sombra dos mangueirais
Lembrança do carro de boi de outros tempos atrás
Um café bem quentinho no final daquela tarde
Torrado e pisado no velho pilão
Antes do pôr do sol e do frio da neblina
Depois, numa rede branca, um suave balanço
Na Serra Ibiapaba tem a hora do descanso
Costumes sertanejos, amigos na calçada
O vaqueiro cantador conduz a sua boiada
Com poeira estendida feito rama de maracujá
Boa conversa e um trago de pinga na velha bodega
Saudade também dá do frondoso Pé de Jatobá
"01/12/07"