O sertão em seu sertão

Após enfrentar chuva

Escuridão e tempestade

Matar vários leões

Para sobreviver

Tomar tanto sol na cabeça

Até dizer- chega!

Trabalhar como bicho

Noite e dia

Para ter o que comer

Severinim, o homem cabirú,

Chega a sua casa

Que nem um cachorro acuado

Com rabo entre as pernas

Já não sabe mais falar;

Nem mais rezar pra o seu padim padi siso

Mas para que falar?

Mas para que rezar?

Se apenas

Engole a comida

Como fera

Sem sentir o gosto.

Sem boa tarde, boa noite

Nem bom dia

O mundo à revelia.

A vida esqueceu que ele vivia.

Já está...

Seco com solo da caatinga

Solitário como Sertão,

Com arbustos retorcidos

Cheio de espinhos e

Folhas caídas pelo chão,

Raízes profundas fincadas à terra a procura de salvação

Estático...

Dramático...

Imóvel... em ação...

Com sua pele áspera e seca

De rinoceronte

Que já não agüenta receber

Mais carinho

Porque a essa hora

O carinho já machuca

O horizonte

Arranha e fere

Mais que uma tapa

Na cara

A vida, o homem que embruteceu e, em contra ponto, a vida bruta o homem engruteceu...

Dentro...

Do

Seu

Próprio

Breu...

Carneiro de Lima
Enviado por Carneiro de Lima em 23/08/2010
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