Vou me Levantar da Rede
Vou me levantar da rede,
Abrir mão da maresia,
Dar com a testa na parede,
Fazer tudo com alegria;
Pular, cantar e dançar,
Rimar, rimar e rimar:
Não sou ninguém sem poesia!
Vou reclamar muito pouco,
Sorrir pra dificuldade
Podem me chamar de louco
Mas não falto com a verdade;
Meu velho chapéu de palha
Me garante e nunca falha:
Sou matuto na cidade!
Quero cantar o sertão
Das mil histórias de feira;
Dos cabras de Lampião
Aos versos de Zé Limeira,
Do baião de Luizinho
Á Cícero, meu padrinho
E sua nação romeira
Das lutas com onça braba
Tenho prova e testemunha:
No meu chapéu, bem na aba
Tem um corte feito a unha
Por uma onça pintada
Que depois de bem surrada
A virar santa se punha
No meu matolão carrego
Tudo o que vi e vivi
Das bandas de Cacha Prego
Ás terras do Cariri;
Histórias de homem-lobo
Às vezes me sinto bobo
Porque quando vi, corri.
Vou me levantar da rede
Agora, sem demorar;
Saciar a minha sede,
Me colocar a versar,
Escrever mais um cordel
E cumprir o meu papel
De sempre continuar...