LUA

Lua

Esgueiro-me na madrugada

feita uma ingénua catraia,

no colo neve enlaçada,

nas mãos luar como alfaia.

Vou pratear pelas janelas

os sonhos por dentro delas.

Pela manhã ensaio o passo

nas pegadas que desfaço

no dia a alagar vielas…

Sou a Lua Tejo acima.

Louco enleio p’lo meu rio

que em cada esquina se anima

e se ateia em desvario.

Sopro Lisboa, c’o a maré, nua,

suspirando em cada rua,

em cada estreia d'alvorada,

em cada gota à foz chegada,

porque o mar a anseia sua…

Sou também desta cidade

mulher, mãe que vela, encanta

todo o ente em liberdade.

Sou da alma lume e manta.

Sou baixela de Lisboa,

consciência que povoa

cada mente enamorada.

Força e calma deslumbrada

Viagem com vento à proa…

Sou a Lua desfolhada

pelas mãos da madrugada…

Amor ao Tejo e a Lisboa

que o fado grato, apregoa…