Trem Doído

Ouvia a música advinda de um rádio qualquer, tocada no fundo, tocando tudo.

O trem de doido passava voando sobre os trilhos, calando vozes, ceifando vidas, destruindo memórias, matando sonhos.

Rapidamente ele sumia dentre as matas e os vestígios de humanidade ficavam em algum canto esquecidos no tempo e suas sequelas revividas uma e outra vez.

São mercadorias? Não! São lixos da sociedade! Foram julgados e condenados pelos defensores da família e dos bons costumes, defensores de uma sociedade limpa. Eles devem pagar o preço! Devem se encaixar, aceitar, devem ser despersonalizados, devem aprender a viver na sociedade, devem esquecer quem são.

Ouço gritos! Quase sinto o desespero de uma desumanidade tácita, estarrecedora.

Substituíram a sujeira social por uma "ordem equilibrada" e medo pairando no ar, nos olhos, marcas na pele, na cultura e na história.

Isso tem sentido? "Carece de ter?"

"Manda quem pode, obedece quem tem juízo".