POR ALGO...
Quando os olhava
Sentia vossa sede
Como se fosse a minha
Quando os olhava
Admirava-os como se suas palavras
Fizessem parte do meu sangue
Quando os olhava
Via o resplendor do futuro
Que eu almejava
Até tudo se virar contra mim
Naquela tempestade sem sentido
Onde meu barco não tinha vela
De um momento para o outro
A sede passou a reprimir minha voz
Até não sobrar grito nenhum
As palavras coagularam meu sangue
E atrofiaram meus músculos
E eu não pude lutar por um tempo
E o futuro era só uma sombra reverberando o raio
Onde pude enxergar as trevas em cada rosto
E o frio intenso que se encaminhava em vossas mãos
Antes eu via em partes e agora vejo face a face
E conheço quem vocês são! Nunca esqueço um rosto.
Não esqueço nada! E vi e fui vitima de suas capacidades!
Nada tirará esta lembrança e embora ainda esteja à deriva
Meu sangue já voltou a circular, a minha sede é de justiça
E futuro indefinível; se hoje porém o mar agitasse
Amanhã tenha certeza que virá a calmaria
Como nas batalhas dos antigos cujo resultado era
O estertor do mundo e uma magnânima incoerência
Nem eu, nem tu e nem nós venceremos
Mas o que restar irá transformar essa realidade corrupta
E é onde deposito minha esperança para hoje lutar
Contra a tempestade, o mar e seus olhos oniscientes
Que ditam as regras inconscientemente
Nos relâmpagos que lhe aplaudem...
(Do Livro "Para Ninguém")