À CAMÕES
Cantar feitos lusitanos?
Do Gama, Cabral, o Magalhães circunavegante?
Para mim tarefa errante.
Talvez dos filhos dos brasis,
De Gusmão, de Dumont...
Fadados ao ar rarefeito
Deitaram preito à E’olo;
E na Cidade Lume a grande jornada deu-se cume.
Desde pipas, de céus enfeitadas,
Desde a Eiffel, um norte, que enredou,
Este ar é nosso;
Do mar, onde o sol nele se contempla,
Até a última estrela que no céu habita.
Tendo pois nossos campos para o mar voltados,
Por quê não nele navegar?!
Ao deixá-lo aos piratas
Que de armas nossas praias abastam?
Ou de ópio que do oriente mana?
E de pó que mata gente irmana,
Oriundo de terras castelhanas?
Dos piratas, que convenção pode acatar
Um reino herdeiro do oceano?
De terras além das Tordesilhas soberano?
De Pindorama, morena e livre cor?
Nem a anglos ou godos dominado?
Seria também chamar Icário
O mar por onde não pudessem sobrevoar
Os pelicanos e batuíras.
Que sol é este a derreter nossas asas,
Reduzindo à tamanho de nau, à praia,
Os cabelos da deusa do mar?!
Recordo aos gentios, aos vates:
—Raça esta, dos mares herdeira,
Lançou-se também aos ares
E sem pés fincados, qual ave, foi a primeira.